sexta-feira, 8 de junho de 2012

O DIA DOS NAMORADOS E AS MÚLTIPLAS FACES DO AMOR

1-A EXPERIÊNCIA ERÓTICA

O tema está no ar ou como diz a música: "Love is in the air".
Esse blog, então, postará alguns pequenos textos que dizem respeito ao amor e suas faces paradoxais.Vamos falar sobre inseguranças, posse, ciúme, temporalidades, rítmos e diferenças.Vamos falar, também, sobre dor, perdas e luto. E é claro, sobre ódios. Vide texto já publicado sobre nossas partes malditas. E de poesia, que ninguém é de ferro, não é verdade?
Comecemos pelo erotismo.
O universo das sensações revela as mais obscuras, as mais microscópicas e as mais exacerbadas características de um ser . Os escritores, os poetas , os músicos, os artistas de um modo geral, são os mais genuínos exploradores desse universo, que lhes oferece matéria prima para a criação. Fernando Pessoa levava tão ao pé da letra essa concepção, que dizia, através de um de seus heterônimos, Alberto Caeiro, que “ pensar é estar doente dos olhos...Eu não tenho filosofia. Tenho sentidos.” Também Kant privilegiou as sensações ao desvendar os conceitos de Belo e Sublime. Ele designa o gosto como a noção central do que ele chama de apuro ou refinamento dos sentimentos. A degustação, por exemplo, de um bom vinho e a subsequente apreciação do mesmo, demarcam, com certeza, universos sensíveis diferentes. O gosto apurado é aquele sentido que nos põe em contato com a alma e com o tempo. Um alimento sorvido na pressa não pode ter o mesmo sabor daquele que passa pela experiência da duração, condição fundamental das impressões mais profundas e refinadas. A rapidez é a base das impressões fugazes e a lentidão, a sustentação daquelas que se fixam por ordem de excelência. É só no momento que se sorve lentamente um vinho que se pode apreciar seu perfume e é preciso um intervalo de tempo para que se possa, verdadeiramente, classificá-lo. A sensação, então, refletida após um julgamento da alma , é fruto de um estágio da evolução do tempo gasto na experiência propriamente dita.
O vinho, bebido e cantado durante séculos, é um ótimo referente do erotismo. Os árabes, através da arte de sua destilação, extraiam o perfume das flores, sobretudo das rosas tão celebradas em seus escritos. Isso nos inspira a pensar se a arte de sorver lentamente um vinho não poderia ser equiparada `a verdadeira experiência erótica, onde o prazer não vem da sofreguidão ou da mera voracidade dos instintos que precisam ser saciados na angústia e na pressa, mas sim do sabor que cada gole pode propiciar. É só na temporalidade que vem através das sensações, que se pode extrair o sentido mais profundo do erotismo. A pressa apazigua os instintos, mas não sacia o desejo. Este diz respeito ao campo do refinamento. Coisa difícil nesses tempos de transitoriedade e superficialidade, signos que comandam a modernidade e que caracterizam esses tristes trópicos, onde a urgência é o vetor da maioria das relações.(continua)

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