sábado, 3 de janeiro de 2015

AS RENDAS NA POSSE



Bela roupagem a da presidenta na posse.Ela estava revestida em rendas. Tons pastéis, suaves, discretos, tonalidade bem diferente das cores fortes  que a esperam nas teias e nos outros tipos de rendas no seu segundo mandato.Aliás, impressionou-me a quantidade de “mulheres rendadas” nas inúmeras posses Brasil a fora. Chamou-me a atenção a predominância  desse tecido nos figurinos presentes. Tudo bem, renda é coisa fina, chique, mas ali parecia coisa de inconsciente coletivo. Como se  a finura nas aparências mascarasse o lamaçal ligado a "outras rendas".Ou seja, vestidos de renda e muita renda nos bancos suiços. 
Pensei em que medida a estética nas fotos se relacionava com a ética. Afinal, todo pensamento já está desde sempre, de alguma maneira, contaminado de algum sentimento, seja ele, admiração, indignação, estupefação ou depressão. E pensar nas rendas através de um olhar psicanalítico, faz, inevitavelmente, com que se capte outras estilísticas que não as propriamente visíveis. Penso na feiúra dos subterrâneos, por exemplo, na sujeira das trapaças. Há algo no feio que nos envergonha, que desperta nossos instintos mais básicos. O feio é aquilo que sobra quando a beleza se ausenta e está relacionado à desmedida, ao excesso, aos acometidos por desvios de caráter, à mentira, à injustiça, ao menosprezo  à inteligência alheia. Ter que ouvir que esse governo vai ser o da educação depois de 12 anos de total desprezo pelos professores e educadores desse país, começando pela retirada de um dos maiores defensores que existem da educação como meta, como princípio, o admirável Cristóvam Buarque, é no mínimo subestimar a paciência da população que acompanha a vergonha com que tal assunto foi tratado ao longo desses anos pelos governos petistas. Basta ver quanto faturam Vs.Excelências e comparar com a miséria paga a um professor que rala em sala de aula para manter-se e à sua família. Basta ver os aumentos absurdos que são dados aos altos escalões dos poderes judiciários, executivos e legislativos, apesar da crise em que vivemos. Compare-os à renda de um professor. E a Lei Magna diz que somos todos iguais. 
Recorro a Sócrates: “Todos os homens são mortais (premissa I);Sócrates é homem (premissa II),logo Sócrates é mortal (conclusão ).      
Da mesma forma,concluímos que não dá para acreditar que todos os trabalhadores estão submetidos a este tipo de lógica. As rendas são tecidas muitas vezes por mãos escravas, bocas sedentas e famintas de Mulheres Rendeiras que fazem delas seu ganha pão.     Que a presidenta reeleita sinta através da veste que lhe envolve o corpo, que "renda"é uma questão de injustiça grave nesse país e se aposse de um discurso mais verdadeiro face ao real, sem as falácias de sempre. 
O povo brasileiro, mais do que rendas e mais do que nunca merece respeito.
Angela Bezerra Villela