Mentiram-me. mentiram~me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente
E mentem de maneira tão pungente
Que acho que mentem sinceramente
Mentem ,sobretudo, impune/mente
não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam.. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas .
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mentem caricatural
mente
mentem como a careca
mente ao pente
mentem como a carroça
à besta em frente
mentem como a doença ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
mentem deslavada/mente
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
nos seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentira
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
Esses são apenas alguns estilhaços de um poema maior de Affonso Romano de Sant'Anna, escrito anos atrás na época da ditadura.
Encontro poucas coisas que acertem o alvo tão em cheio.
O poema e o poeta estão mais vivos do que nunca.
O resto é... silêncio ( Hamlet)
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