terça-feira, 13 de março de 2012

ENFIM SEREMOS SALVOS:
TEMOS UM NOVO MINISTRO DA PESCA

João Bosco Araújo*


Ainda não era Brasil, mas simplesmente terra sem dono, porque índio habita e vive sem se sentir dono, e depois, a partir do século XVI, terra-colônia dos portugueses- proprietários e, tanto aí quanto antes, ora uns, índios, ora outros, portugueses, já conheciam os peixes e os pescavam e os comiam, sem que tivessem Ministro da Pesca ou dele sentissem a falta.
E assim foi por séculos e séculos, até os nossos dias, porque nem índios, nem portugueses, nem brasileiros, jamais tiveram aquele lampejo de gênio, aquele insight, que lhes permitisse a clarividência de que, em se criando o Ministério da Pesca, aí sim, teríamos a bíblica multiplicação dos peixes, a saciar e fartar o famélico apetite do nosso povo.
Nada a reclamar quanto à demora do nascimento de tão brilhante idéia. Afinal, não é em qualquer sociedade, de índios, de portugueses ou de brasileiros, e nem em qualquer século, que há de surgir um gênio do porte e da fecundidade do nosso Lula, prova concreta e irrefutável de que fala a verdade o povão, quando diz que Deus é brasileiro. Se não o fosse, teria talvez permitido que o Homem tivesse nascido, quem sabe, na Croácia, ou mesmo na Macedônia, ou melhor, no Haiti que, com ele lá, certamente não estaria a enfrentar as agruras que hoje enfrenta.
E a pergunta não se deixa calar: como foi possível ao Brasil, subsistir por tão longo tempo sem um Ministério da Pesca? Difícil responder, porque o assunto é por si só extremamente sutil e complexo. Por exemplo, tente o caro leitor descobrir se o tal ministério é mais importante para os peixes ou para os pescadores. Ou ainda, quem sabe, por ser polivalente, pode também valer como moeda de troca, nos arranjos, acordos e negociatas que se processam nos subterrâneos da política, neste caso, sempre com “p” minúsculo.
Não há de ser difícil entender quão duro e complicado terá sido encontrar o homem certo para assumir os deveres e encargos inerentes ao comando de tão importante ministério, cuja complexidade bem aparece, quando se atenta para o fato de que aquele (ou aquela) que viesse a ser o gerente (ou a gerenta) da empreitada, teria de harmonizar águas, peixes e pescadores, elementos tão diferentes, por suas vocações: as águas não querem ser violadas, os peixes querem viver em paz e os pescadores conspurcam as águas e matam os peixes.
Mas, enfim, abriram-se os caminhos e apareceu o homem certo para o lugar certo. Nenhuma importância tem o fato de que, como o próprio falou, não saiba enfiar o anzol na minhoca, uma vez que certamente é pessoa abençoada e inspirada, parente de dois santos homens, Edir Macedo e R. R. Soares, que, por acidente, não se toleram.
Como se isso não bastasse, ainda há a considerar que o escolhido, por mera coincidência, é também Senador da República, figura de proa de um partido político (o inexpugnável PRB), líder evangélico, capaz arrebanhar os votos do rebanho (redundância verbal e política) para abrigá-los no aprisco onde um molusco manda com mão de ferro.

*Diretor Executivo do Amazonas EM TEMPO.

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